quarta-feira, 10 de março de 2010

ENTREVISTA COM FREDRIC LITTO SOBRE LIVRO DIGITAL

Fredric Litto é professor da ECA - Escola de Comunicação e Artes da USP - desde 1971, quando veio dos Estados Unidos  para o Brasil. É coordenador científico da Escola do Futuro,  e presidente da Associação Brasileira de Ensino a Distância. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Comunicação Mediada por Computadores.

Qual a sua avaliação sobre o livro digital?

Enquanto a tecnologia de fontes portáteis de energia (leia-se: baterias) continua no seu atual patamar (de 3 a 4 horas para cada recarregamento, para aparelhos eletrônicos de pequena porte), não acredito que a leitura em aparelhos digitais faça um rompimento muito sério na prática de ler livros no seu formato tradicional.  Para consultas rápidas à informação ou ao conhecimento, o telefone celular já fornece acesso a conteúdos extensos e atualisáveis gravados dentro do próprio aparelhos ou via web a acervos distantes. O termo leitura, no seu sentido mais completo, se refere a um processo que combina a captação da informação/conhecimento desejado, a reflexão, talvez a  anotação pessoal dentro ou fora da mídia, e outros passos que exigem tempo, seja a leitura de uma obra de entretenimento ou de natureza profissional. Por isso, enquanto a energia solar é insuficiente para sustentar aparelhos que consumem cada vez mais energia, e enquanto o usuário típico quer o máximo de liberdade de movimento (praia, parque, visita a lugares onde não seja conveniente solicitar “força”), acredito que o livro em formato convencional terá a preferência da maioria daqueles que precisam “ler”. 

Que outros problemas existem em relação ao livro digital?

    Uma outra restrição tecnológica ao uso de livros digitais para leitura que não seja de consultas  rápidas ou com complexidade informacional, é a questão ergonômica dos aparelhos atuais de leitura de obras em forma digital. Embora muitos ofereçam a possibilidade de alterar a apresentação (retrato vs. Paisagem),  a fonte do texto (maior e menor) e o grau de luminosidade (maior ou menor), a grande variedade de capacidade ocular e preferências individuais entre os possíveis usuários dos aparelhos digitais não garante que o estado-da-arte do aparelho de leitura digital seja abraçado por um público grande.  Legibilidade, que tem toda uma área de estudos, partindo dos aspectos fisiológicos e indo até os aspectos cognitivos de compreensão, como a questão de erros de “leitura”) é uma funcionalidade ainda não amadurecida no universo de leitura em ambientes digitais.    E tem, também, a questão de cansaço visual.  Será que alguém ousaria ler Tolstoi´s “Gerra e Paz”, em suas 800 páginas, numa tela ou monitor?  Talvez em parcelas extremamente econômicas.

Já testou alguns aparelhos?

Nos últimos 20 anos, sempre a procura de novas soluções para a realização das novas formas de trabalhar, comprei três versões diferentes e pioneiras dos atuais aparelhos de leitura digital: a SONY Data Discman, a SONY Electronic Book Player (Multi-Media Data Discman), e o Rocket eBook (Nuvo Media Inc.).  Mostrei-as nas minhas aulas na ECA-USP, e em palestras Brasil afora.  Mas nunca cheguei a usá-las além dessa função de mostrar o que nos esperava em termos de portabilidade do conhecimento.  Os aparelhos da SONY não permitiam conexão à rede, não eram interoperacionais com o hardware e software de outros fabricantes, e não ofereciam as obras que eu precisavam para o meu trabalho.   

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